domingo, 19 de junho de 2011

Cervantizando

Em "A Causa foi Modificada" saiu esta semana um post em resposta a este post do Jugular, e a cujo autor, Tiago Julião Neves, já havíamos respondido aqui. O post em A Causa foi Modificada tem o título interessante de "Cervantizar o país", e dele extraio duas partes, com realces da minha responsabilidade:

A espaços, a ciência económica é como a ciência geofísica da previsão sísmica: compreende e conhece que as merdas vão acontecer, só não sabe dizer quando. Acresce que, neste caso, também não se sabe exactamente como. Daí que nos questionemos: porquê tentar adivinhar? O engenheiro José Sócrates e defensores como o Tiago Julião Neves, misteriosamente, afirmam não só que sabem quando vai acontecer (proximamente, muito proximamente), como como vai acontecer. E vai daí, hipotecam uma parte dos recursos deste abastado país numa raspadinha de contornos ecológicos erotizada com tecnologia de ponta e inovação.

Porque ao se comprar e subsidiar, por exemplo, uma torre eólica ou um painel solar com as tecnologias ineficientes de hoje, o que se está efectivamente a fazer é a impôr a um país pobre uma tecnologia mais cara do que as alternativas disponíveis, tecnologia essa que será ultrapassada no futuro próximo por outras que, então sim, transformarão o vento e o sol em energias rentáveis, tudo isto ao preço de ficarmos a pagar durante anos e anos em dominó os juros de termos pedido financiamento para uma tecnologia que entretanto ficou obsoleta. É bonito, não é? Mas, pergunto de outra maneira: porque não esperar?

Por esta altura o Tiago Julião Neves insiste no que me parece ser um argumento desmedidamente falacioso, para não dizer pior: a de que esta política tem a seu lado vantagens como "a geração de emprego, criação de riqueza, redução de importações, fomento de exportações, redução de emissões, apoio à inovação e desenvolvimento tecnológico". Mas esta merda faz algum sentido, caralhos ma'fodam? Não se poderá diagnosticar estas mesmas vantagens sempre que se injecta artificialmente (quero dizer: suprindo o seu deficit em relação ao respectivo mercado natural) dinheiro na criação de uma industria, qualquer que ela seja, desde a produção de patinhos de plástico amarelos até à produção de dildos de plástico vermelhos?