sábado, 25 de fevereiro de 2012

Os equívocos de Joanaz de Melo

João Joanaz de Melo é uma referência habitual no blog. Pelas mais más razões. Asneiras atrás de asneiras são a garantia de que tem aqui um lugar de destaque! Hoje, foi no Expresso, que o Joãozinho deu lugar à sua verborreia habitual. O problema começa logo pelo título "Um equívoco impingido à sociedade portuguesa pela EDP - O mito do hidroelétrico". Ele devia saber que as barragens do PNBEPH, às quais se refere no seu texto, não são um exclusivo da EDP, sendo igualmente de destacar a Iberdrola, e em menor grau a Endesa... O Joãozinho começa com:

Parece óbvio que a energia hídrica é renovável e deve ser explorada ao limite. Óbvio, mas falso - como a crença ancestral de que a Terra é plana. O mito do potencial hidroeléctrico foi impingido à sociedade portuguesa pela propaganda da EDP, com a cumplicidade do Governo. Infelizmente, vale tudo nos negócios e na política. Preocupante é que fazedores de opinião supostamente bem informados e não alinhados façam eco deste mito, como vimos em artigos recentes de António Costa Silva ou Nicolau Santos. A causa desta crença vulgarizada parece residir em quatro equívocos.

É a estratégia habitual do argumento estúpido: a Terra não é plana, mas o que eu digo é verdadeiro! E vai prová-lo, porque há quatro equívocos? Aposto que daqui a uma semana, tal é o seu hábito, vai haver mais equívocos!

O primeiro equívoco é a diferença entre potência e energia. Numa central eléctrica, a electricidade gerada (GWh/ano) é igual à potência (GW) vezes o tempo de operação (h/ano). As nove grandes barragens propostas, com uma potência de 2,5 GW e uma produtibilidade de 1700 GWh/ano, seriam usadas apenas 680 h/ano (8% do tempo). Isto representa um acréscimo de 48% da potência hidroeléctrica instalada (parece muito), mas apenas 19% da produção hídrica, 3% da procura de electricidade e uns míseros 0,5% da energia primária do país.

O primeiro equívoco do Joãozinho é que ele deveria estar-se a referir neste parágrafo às eólicas. Aquelas coisas que têm muita potência, mas só rodam de vez em quando, e quando o fazem é maioritariamente à noite e de madrugada. Ao menos, as barragens podem ser postas a rodar quando precisamos da energia... E quanto às míseras percentagens, ele não nos diz qual a mísera percentagem que produzem as milhares de ventoinhas plantadas no topo dos montes. Sim Joãozinho, porque estás a falar de energia primária!

O segundo equívoco é a diferença entre potencial teórico e recurso utilizável. Só são relevantes os recursos economicamente exploráveis. Ora, o custo do kWh das novas barragens será altíssimo: duas vezes mais caro do que o atual custo médio de produção; cinco vezes mais do que se reforçar a potência em barragens existentes; 12 vezes mais do que o uso eficiente da energia. O potencial de poupança rentável é pelo menos dez vezes superior à capacidade das novas barragens. Por outras palavras, o Programa Nacional de Barragens é uma fraude - um favorecimento das grandes empresas da eletricidade, da construção e da banca, à custa dos consumidores/contribuintes e do tecido económico.

Aqui já o Joãozinho está verdadeiramente enterrado. Como se sabe, as novas barragens são precisas por causa do excesso de eólicas. O custo das eólicas é o que nós sabemos. Ora se a este custo somarmos os custos altíssimos que o Joãozinho refere, vejam como fica o custo final das eólicas: uma barbaridade! Se o PNBEPH é uma fraude, é porque a energia eólica é uma TRIPLA FRAUDE em Portugal!

O terceiro equívoco é a bombagem. Até certo ponto, é um método interessante de armazenar energia (de origem eólica). Acontece que bastariam 1,5 a 2 GW de bombagem. Ora, entre a potência operacional e as obras de reequipamento em curso já temos 2,5GW - de onde, para este efeito, não precisamos de nenhuma barragem nova.

O que é um método interessante para justificar as eólicas do Joãozinho, é na verdade um desperdício gigantesco! É um aspecto muito conhecido. E as contas que o Joãozinho faz era tendo em conta valores anteriores de potência eólica; o problema é que estas reproduziram-se muito para além do que já estava previsto, e já começam até a crescer em alto-mar...

O quarto equívoco é a 'energia renovável'. A água será renovável, mas o território afetado pelas barragens e albufeiras não é: perda de valores sócioculturais, degradação da qualidade da água e do potencial turístico, destruição dos solos, das paisagens e dos ecossistemas. Exemplos trágicos incluem a iminente destruição do vale e linha do Tua, com a provável perda da classificação do Douro Vinhateiro como património mundial.

E então Joãozinho? O que é o território do topo dos montes? O que dizer da destruição que aí foi levada a cabo, quer em termos ambientais, quer paisagísticos? Quanto à linha do Tua, já sabemos como funciona, e para que serve...

Em resumo, a Terra é redonda e o potencial hidroelétrico de Portugal é um mito: novas grandes barragens produziriam uma quantidade insignificante de eletricidade, caríssima e com impactes inaceitáveis.

Enfim, em resumo, o Joãozinho tem uma cabeça oca! Só para terem uma ideia da parvoíce dos equívocos dele, substituam no texto as barragens pelas eólicas, e vejam como os equívocos são tal e qual!